ZÉ DO PERIQUITO

Produzido em 1960 e lançado em 1961, Zé do Periquito é mais uma comédia com a fórmula de sucesso de Mazzaropi. O artista, que assina a segunda direção de sua carreira (ao lado de Ismar Porto), além também da produção e distribuição do filme, interpreta na tela Zenó, um humilde e ingênuo jardineiro de uma escola que se apaixona por uma das alunas, Carmen. A jovem, entretanto, não vê nele nada mais do que uma figura amiga. Por uma vingança de um grupo de adolescentes, Zenó é levado a acreditar que Carmen também é apaixonada por ele, e larga o emprego de jardineiro para tentar ganhar dinheiro em uma cidade vizinha. Com um realejo e um pássaro, o homem se alia com uma das moradoras para revelar a “sorte” dos habitantes, e ele logo fica conhecido como Zé do Periquito. Com o sucesso das leituras, Zenó fica rico e retorna para sua antiga cidade para pedir a mão de Carmen, mas não se agrada com a vida de homem rico e deixa tudo para a caridade.  

O filme conta com participação do renomado ator Eugênio Kusnet, de Genésio Arruda – em uma homenagem a este que foi uma das inspirações de Mazzaropi -, e, claro, sua parceira de filmes Geny Prado. As cenas musicais contam com participações de famosos do rádio e da indústria fonográfica, como Hebe Camargo (ex-parceira de Mazzaropi nos tempos da Rádio Tupi), Agnaldo Rayol, Tony e Celly Campello, sendo esta última a maior representante do rock brasileiro na época.   

Zé do Periquito foi um enorme sucesso de bilheteria, tendo superado, segundo os jornais do período, produções americanas e europeias nos cinemas, quebrando recordes na época. O jornal O Estado de São Paulo classificou o filme como “o grande espetáculo do ano” e destacou que “pela primeira vez o público aplaude de pé uma comédia nacional”.  

A obra fortalece o fenômeno Mazzaropi principalmente na cidade de São Paulo. O longa-metragem é a quarta produção da PAM Filmes e foi gravado nos estúdios da Vera Cruz. O sucesso das primeiras produções da PAM garantiu a expansão de Mazzaropi, que comprou em 1961 a Fazenda da Santa, em Taubaté, onde construiu seu próprio estúdio. Mazzaropi encarna sua famosa persona caipira do interior de São Paulo, mas o longa se diferencia dos demais pelo seu flerte com as teenpics dos anos 1950, realizado à maneira de Mazzaropi, e que será aprofundado ainda mais em sua produção O Puritano da Rua Augusta, de 1966. Com jaquetas de couro, os jovens da escola são os responsáveis por todas os infortúnios que acontecem com os mocinhos Zenó e Carmen. Esta, inicialmente amiga do grupo, os rejeita no fim do filme pois sua inocência e generosidade não condizem com os atos delinquentes dos colegas. No fim, Carmen se torna fiel ao marido que aprendeu a gostar, mas que não escolheu. Tal fidelidade ao matrimônio faz com que ela o acompanhe em vida simples após Zenó doar todos os seus bens para a caridade.  

Apesar de se utilizar dos arquétipos presentes nos filmes juvenis (são eles de acordo com Zuleika Bueno: os jovens desajustados, a mocinha, o ambiente escolar, o bom professor e os pais frustrados), o filme de Mazzaropi não é um filme juvenil propriamente dito. Seu flerte com o gênero serve para carimbar na tela o que é presente nos filmes do artista: a figura do caipira ingênuo, atrapalhado e fiel aos seus valores, além da condenação de certas práticas sociais nos citadinos. O caipira Zenó tenta se inserir na modernidade capitalista ao seu redor ao comprar uma casa e um carro, mas logo se retira para não renunciar a seus valores morais. 

Naquele locus, Zenó, ao lado de Carmen e do professor, são os únicos que permanecem “puros” em meio as mentiras e injustiças do ambiente. Mesmo Zenó tendo se tornado um vigarista ao trabalhar com seu realejo, ele se redime ao fazer a doação de seus bens. O pai de Carmen faz de tudo para manter a boa vida financeira, inclusive arranjar um casamento para a filha. Os delinquentes juvenis agem contra tudo e contra todos sem pensar nas consequências, principalmente Mexirico, que se aproveita da ingenuidade de Zenó para ganhar dinheiro dos colegas.  

Zé do Periquito recebeu críticas mistas em seu lançamento. As negativas afirmam que o filme era uma produção modesta e com um roteiro “mais do mesmo”, parecido com outras obras do cineasta. As críticas positivas elogiam o humor da trama e as participações musicais. Apesar dos comentários, nada impediu seu absoluto sucesso comercial, típico das realizações de Mazzaropi. 

 

Referências  

BARBOSA, Carla; COUTINHO, Angélica (orgs.). Mazzaropi: o Jeca fez 100 anos!. Rio de Janeiro: Caixa Cultural, 2013.   

BUENO, Zuleika de Paula. O juvenil como gênero cinematográfico. In: IARA - Revista de Moda, Cultura e Arte, vol. 1, nº1, abril-agosto/2008, p. 191-210. 

DUARTE, Paulo. Mazzaropi: uma antologia de risos. São Paulo: Imprensa Oficial, 2009. 

CB/Recorte Documentação, P. 1961-7/124, O Estado de São Paulo, 07.05.1961. 

CB/Recorte Documentação, P. 1961-7/124, O Estado de São Paulo, 30.04.1961. 

CB/Recorte Documentação, P. 135/3, Diário Comércio e Indústria, 11.05.1961. 

CB/Recorte Documentação, P. 135/4, O Jornal, 02.06.1961. 

CB/Recorte Documentação, P. 135/4, Jornal do Dia, 13.08.1961.